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Efeitos imediatos da punção seca na sensibilidade à dor e na modulação da mesma em doentes com dor cervical idiopática crónica: um ensaio clínico aleatorizado simples-cego
PONTOS CHAVE
- A punção seca não foi superior ao agulhamento placebo no tratamento da dor cervical que se pensa ser causada por pontos gatilho miofasciais em pacientes com dor cervical idiopática crónica.
- A punção seca e o agulhamento placebo não conseguiram criar efeitos significativos na medida do resultado primário, que foi o limiar de pressão da dor à distância.
INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
A punção seca é um tratamento comum para a dor no pescoço. Foi proposto que a punção seca pode tratar pontos gatilho miofasciais que podem estar a causar dor no pescoço e que esse tratamento possibilita a redução da dor através de efeitos neurofisiológicos. A natureza exata destes efeitos é desconhecida.
Para investigar esta questão, este estudo comparou os efeitos da punção seca versus o agulhamento placebo nos limiares de dor por pressão local e à distância e na modulação da dor condicionada em doentes com dor cervical idiopática crónica.
Não houve diferenças significativas entre os grupos para qualquer uma das medidas de resultado.
MÉTODOS
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54 participantes com dor cervical idiopática crónica foram divididos em dois grupos: punção seca e agulhamento placebo.
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Ambos os grupos foram informados de que a intervenção se destinava a tratar os pontos gatilho que podem estar a causar a dor. Ambos os grupos receberam uma única intervenção de punção no trapézio superior do lado mais doloroso do pescoço.
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No grupo da punção seca, o terapeuta tentou inserir a agulha num ponto gatilho e provocar uma resposta de contração local, o que se pensa indicar uma colocação bem-sucedida da agulha. No grupo do agulhamento placebo, a agulha foi inserida no local de um ponto gatilho, mas não foi inserida suficientemente fundo para perfurar a fáscia ou provocar uma resposta de contração local.
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O resultado primário foi o limiar de dor por pressão (LDP) no quadricípite para medir a sensibilidade à dor à distância/hiperalgesia. Os resultados secundários foram os LDP em ambos os músculos trapézios superiores e os efeitos de modulação da dor condicionada (MDC) durante a imersão em água quente.
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Os pacientes foram avaliados antes e imediatamente após as intervenções. Foram utilizados modelos lineares mistos para avaliar as diferenças entre os grupos.
RESULTADOS
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Não se registaram diferenças significativas entre os dois grupos para quase todas as medidas de resultados.
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Tanto a punção seca como o agulhamento placebo não conseguiram criar uma diferença na medida do resultado primário (LDP no quadricípite) que fosse clinicamente significativa (DMS), ou que excedesse o intervalo de erro de medição potencial.
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Os autores concluíram que os dados não mostraram nenhum efeito superior imediato da punção seca em comparação com o agulhamento placebo nos LDPs locais e à distancia e na MDC em pacientes com dor cervical idiopática crónica.
LIMITAÇÕES
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Apenas foi efetuada uma medição imediatamente após a intervenção, pelo que os efeitos a longo prazo são desconhecidos. É possível que o grupo da punção seca revelasse melhores resultados a longo prazo, uma vez que este grupo poderia ter tido mais dores musculares imediatamente a seguir à intervenção, que tenderiam a diminuir com o tempo.
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Os terapeutas não estavam cegos quanto ao facto de a intervenção ser uma simulação, o que pode ter influenciado o resultado.
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O grupo do agulhamento placebo pode ter recebido efeitos de tratamento devido à penetração da agulha na pele, apesar de não ter atuado no ponto de gatilho.
IMPLICAÇÕES CLÍNICAS
A dor no pescoço pode ser causada, em parte, por um processamento alterado da nocicepção na medula espinhal, que pode estar relacionado com a sensibilidade central e/ou a falta de eficiência da inibição endógena da dor (1). Foi recomendada uma variedade de avaliações para testar estas condições, incluindo comparações de LDPs locais e à distância e avaliações da modulação da dor condicionada (2,3).
A punção seca é uma intervenção comum para a dor cervical que pretende tratar pontos gatilho miofasciais que podem estar a causar sensibilidade central ou inibição endógena da dor (4,5).
O objetivo do estudo foi examinar os efeitos neurofisiológicos da punção seca, comparando com o agulhamento placebo em relação aos seus efeitos imediatos sobre os LDPs locais e à distância, bem como sobre a MDC.
Foi colocada a hipótese de que a punção seca seria mais eficaz do que o agulhamento placebo em: (1) aumentar os LDPs locais e à distância, indicando uma menor sensibilidade central, e/ou (2) aumentar as medidas de MDC, refletindo uma inibição mais eficiente da dor.
No entanto, não se registaram diferenças significativas entre os grupos para nenhuma das medidas de resultado. Os clínicos devem interpretar este estudo como não fornecendo provas de que a punção seca é superior ao agulhamento placebo para o tratamento da dor cervical crónica idiopática.
+REFERÊNCIAS DE ESTUDO
MATERIAL DE APOIO
- Coppieters I, De Pauw R, Kregel J, Malfliet A, Goubert D, Lenoir D, et al. Differences between women with traumatic and idio- pathic chronic neck pain and women without neck pain: interre- lationships among disability, cognitive deficits, and central sensitization. Phys Ther. 2017;97(3):338353.
- Coronado RA, George SZ. The central sensitization inventory and pain sensitivity questionnaire: an exploration of construct validity and associations with widespread pain sensitivity among individuals with shoulder pain. Musculoskelet Sci Pract. 2018;36:6167.
- Yarnitsky D, Bouhassira D, Drewes A, Fillingim R, Granot M, Hanson P, et al. Recommendations on practice of conditioned pain modulation (CPM) testing. Eur J Pain. 2015;19(6):805806.
- Niddam DM, Chan RC, Lee SH, Yeh TC, Hsieh JC. Central modulation of pain evoked from myofascial trigger point. Clin J Pain. 2007;23(5):440448.
- Stieven FF ,Ferreira GE, deAraujo FX, Angellos RF, Silva MF, da Rosa LHT. Immediate effects of dry needling and myofascial release on local and widespread pressure pain threshold in individuals with active upper trapezius trigger points: a randomized clinical trial. J Manipul Physiol Ther. 2021;44 (2):95102.