Tipos de Estudo em Investigação em Fisioterapia: Um Guia Prático
Os fisioterapeutas baseiam-se na investigação para orientar a sua própria prática dentro da medicina baseada na evidência (1). A medicina baseada na evidência é definida como a combinação de investigação, experiência clínica e valores do paciente para guiar a tomada de decisão no cuidado dos doentes.
Para aplicar o componente da investigação na medicina baseada na evidência, os fisioterapeutas devem manter-se atualizados quanto ao vasto corpo de literatura científica. Devem também compreender a hierarquia dos tipos de estudo e como estes são representados na investigação em fisioterapia.
Aqui, vamos analisar os diferentes desenhos de estudo que se encontram na investigação em fisioterapia. Para cada tipo de estudo, iremos abordar os cenários em que são utilizados, bem como fornecer exemplos no âmbito da fisioterapia.
Ensaios Clínicos Randomizados
Os ensaios clínicos randomizados são o nível mais elevado de desenho de investigação, sendo frequentemente considerados o “padrão-ouro” para determinar a eficácia de um novo tratamento (2). São estudos prospetivos, ou seja, planeados antes de qualquer recolha de dados. Envolvem a atribuição aleatória dos participantes a um grupo experimental ou a um grupo de controlo.
No contexto da investigação em fisioterapia, o grupo de controlo recebe frequentemente algum tipo de terapia, em vez de nenhuma terapia, como num verdadeiro grupo de controlo. Por exemplo, existe um ensaio clínico randomizado (aqui) que comparou o treino de resistência supervisionado com o treino de resistência realizado em casa (em vez de nenhum treino) em pacientes com dor subacromial no ombro.
A aleatorização cria uma oportunidade igual para os participantes serem colocados em qualquer dos grupos. Isto reduz o viés, equilibrando as características dos participantes entre os grupos. Muitas vezes, os participantes não sabem a que grupo foram atribuídos (o que é conhecido como “cegamento”).
Os ensaios clínicos randomizados são a melhor forma de determinar a causalidade (ou seja, resultados que se devem à intervenção e não a outros fatores).
Estudos de Coorte
Os estudos de coorte acompanham participantes que partilham uma característica em comum. São estudos longitudinais, ou seja, os investigadores observam os participantes ao longo de um determinado período de tempo. Podem ser prospetivos (seguindo os participantes no tempo, para a frente) ou retrospectivos (analisando o que aconteceu no passado, seguindo os participantes para trás no tempo).
Os estudos de coorte são ideais para determinar fatores externos que influenciam a saúde. Também ajudam a identificar fatores de risco para lesões ou condições clínicas.
Na fisioterapia, os investigadores podem usar um estudo de coorte para acompanhar doentes que realizaram tratamento fisioterapêutico para uma condição específica. Todos os participantes receberam o tratamento e não foram aleatoriamente atribuídos a grupos, como acontece nos ensaios clínicos randomizados. Os investigadores avaliam se fatores como a idade, gravidade da lesão, adesão à terapia, entre outros, afetam os resultados do tratamento. Esta revisão de pesquisa da Dra. Mariana Wingwood é um exemplo de um estudo de coorte retrospetivo que avaliou o impacto da reabilitação precoce na função de doentes com fraturas por compressão vertebral.
Os estudos de coorte prospetivos são um desenho metodológico robusto e bastante comum na investigação em fisioterapia. Uma outra revisão, de Stacey Harden, é um exemplo de estudo de coorte prospetivo que acompanhou jogadores de futebol profissional para avaliar fatores de risco para a Síndrome Pubálgica, que pode ser consultada aqui.
Estudos de Caso-Controlo
Os estudos de caso-controlo analisam o passado para comparar doentes que têm uma lesão/condição (casos) com doentes que não têm essa lesão/condição (controlos). Os controlos são habitualmente emparelhados com os casos com base em várias variáveis demográficas, como idade, sexo e nível de atividade física.
Os estudos de caso-controlo são úteis para identificar fatores de risco associados a lesões ou condições clínicas. Muitos investigadores utilizam este tipo de estudo como investigação inicial para compreender melhor uma lesão ou condição antes de realizar um ensaio prospetivo.
Estes estudos são comuns em fisioterapia, como é o caso desta revisão de pesquisa da Dra. Melinda Smith, que analisou os fatores de risco em corredores com síndrome de stress tibial medial, comparando-os com corredores assintomáticos emparelhados.
Estudos Transversais
Os estudos transversais são estudos observacionais que avaliam dados de participantes num único momento no tempo. São utilizados para determinar associações entre duas variáveis. Por exemplo, esta revisão de pesquisa de Steve Kamper utilizou um desenho transversal para verificar se existia relação entre a postura e o uso do smartphone com a dor cervical em adultos jovens.
Os investigadores em fisioterapia utilizam os estudos transversais tanto em investigações baseadas em questionários como em estudos clínicos. Estes estudos são, geralmente, mais rápidos e com menor custo, sendo por isso mais apelativos e exequíveis em contextos clínicos de fisioterapia.
Séries de Casos e Estudos de Caso
Os últimos — e mais fracos — desenhos de estudo são as séries de casos (cerca de <10 pessoas no estudo) e os estudos de caso (com apenas 1 pessoa). São considerados os mais fracos em termos metodológicos, pois, devido ao pequeno número de participantes, os resultados dificilmente são generalizáveis à população em geral.
No entanto, as séries de casos e os estudos de caso podem ser extremamente informativos para a prática clínica em fisioterapia, uma vez que costumam descrever lesões ou condições raras ou invulgares. Proporcionam uma visão prática do trabalho de outro fisioterapeuta ou equipa de saúde, o que pode ajudar a informar e refletir sobre a sua própria prática. Um exemplo é esta série de casos analisada por Robin Kerr, que incluiu 5 doentes submetidos a uma abordagem terapêutica alternativa para a capsulite adesiva (conhecida como “ombro congelado”).
Em Resumo
Na prática da medicina baseada na evidência, é importante conhecer os diferentes desenhos de estudo presentes na investigação em fisioterapia. Compreender as indicações e limitações de cada tipo de estudo ajudará os fisioterapeutas a determinar se os resultados devem ou não influenciar ou modificar a sua prática clínica.
É importante lembrar que cada tipo de estudo tem vantagens e desvantagens. Embora exista uma hierarquia que vai do desenho mais robusto (como os ensaios clínicos randomizados) ao menos robusto (como os estudos de caso), abordámos aqui considerações específicas à investigação em fisioterapia que tornam certos desenhos mais comuns e eficazes do que outros, dependendo do contexto.
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