Da Investigação à Prática: reabilitação pós-artroplastia do quadril
Conhece a Sarah – tapete de yoga, luvas de jardinagem e um quadril novo em folha.
A Sarah tem 68 anos. Bebe café sem açúcar, é fã de Yin Yoga e passa a maioria dos fins de semana com as mãos na terra do jardim comunitário. Há seis semanas, fez uma artroplastia total do quadril (THA – total hip arthroplasty) do lado direito, depois de anos a lidar com uma osteoartrose “osso contra osso”, que finalmente acabou por não dar tréguas.
Quando entrou na minha clínica, parecia estar bem – sem auxiliares de marcha, cicatriz cirúrgica a cicatrizar bem, dor de cerca de 3/10 na maioria do tempo. Mas, no momento em que tentou subir para a marquesa, vi logo – hesitação, movimentos cautelosos, rigidez que ainda não tinha acompanhado a sua confiança.
Mais do que tudo, ela queria voltar a sentir-se ela própria. Não “recuperada”, mas capaz – de se levantar do chão sem esforço, voltar ao yoga sem medo de deslocar o quadril, e arrancar ervas daninhas sem entrar em crise postural.
Foi aí que percebi que isto não ia ser sobre cumprir marcos clínicos. Ia ser sobre fazer a ponte entre a cirurgia e a vida a que ela queria voltar – sem tornar o processo demasiadamente clínico.
Como sempre, a minha abordagem foi guiada pela extensa biblioteca de Revisões de Pesquisa da Physio Network – pode consultá-la aqui.
Os primeiros dias – pequenos incentivos, não protocolos
Com seis semanas após a cirurgia, não íamos começar nada radical. A Sarah já andava confortavelmente pela casa e tinha começado a dar pequenos passeios ao ar livre. O que precisava era de confirmação de que estava segura para se mexer – e de um caminho claro para avançar, que não parecesse uma lista de verificação de alta hospitalar.
Mantivemos as coisas simples:
- Alguns exercícios para lembrar aos glúteos e ao core que tinham trabalho a fazer (como pontes suaves e subidas de degraus com apoio).
- Mobilidade leve, focada na extensão e rotação do quadril – só o suficiente para voltar a sentir que o quadril fazia parte dela.
- E talvez o mais importante: uma conversa sobre o que podia realmente fazer. Segundo uma revisão da Physio Network de Fortier et al., 2021, afinal a lista de atividades permitidas após uma THA é maior do que muitos pacientes imaginam. Caminhar, nadar, yoga (com algumas adaptações), até andar de bicicleta – tudo possível mais cedo do que se pensa, se houver progressão gradual e monitorização da tolerância.
Sem plano intensivo. Sem plano de reabilitação cinco vezes por semana. Apenas um pequeno empurrão a cada semana ou duas, com segurança e uma analogia bem colocada. (A frase preferida da Sarah: “Não está frágil – está apenas recém afinada.”)
Semanas 8–16: Quando a força encontra a confiança
Por volta dos dois meses após a cirurgia, a Sarah tinha atingido um pequeno impasse. A dor era mínima, mas subir escadas ainda parecia escalar o Everest. Evitava sentar-se no chão. E não estava convencida de que o lado direito do quadril fosse suficientemente fiável para voltar ao yoga.
Entrámos na segunda fase – não apenas força, mas potência. Uma Revisão de Pesquisa da Physio Network sobre treino de potência em adultos mais velhos após THA (Chui et al., 2022) foi o ponto de viragem. Afinal, a velocidade do movimento importa, especialmente para prevenir quedas e promover independência funcional.
Fomos um pouco criativos:
- Levantamentos rápidos da cadeira (pensa: “subir rapidamente, descer devagar”).
- Subidas de degraus com resistência leve, com foco no ritmo.
- Exercícios de equilíbrio com distração – como ficar em pé numa perna enquanto dizia os nomes das suas plantas favoritas do jardim (a Sarah gosta particularmente de calêndulas).
Não nos encontrávamos todas as semanas – apenas o suficiente para ajustar o plano, acompanhar o progresso e conversar sobre os inevitáveis “isto é normal?” que surgem.
Na semana 16, a Sarah já se movia de forma diferente. O padrão da marcha estava mais fluído. Conseguia levantar-se do chão com apenas um pouco de hesitação. E um dia, sem aviso, disse: “Atravessei o parque para encontrar uma amiga e nem pensei no meu quadril.”
Foi aí que percebi que estávamos a caminhar para algo verdadeiramente significativo.
O empurrão final – das repetições à vida real
Cinco meses após a cirurgia, a reabilitação já se parecia muito menos com reabilitação.
A Sarah tinha regressado à sua aula de yoga para iniciantes, com algumas adaptações em poses mais extremas. Conversámos sobre os principais riscos de movimento após a artroplastia total do quadril: flexão profunda do quadril, rotação excessiva, torção sobre uma perna – e como se movimentar dentro da nova amplitude de forma segura, sem evitar o movimento por completo.
No jardim, voltou a levantar vasos, embora com uma postura mais ampla e uma melhor flexão do quadril do que antes da cirurgia. Começou a reparar que o lado direito já não “cedia” ao fazer rotações ou carregar objetos. Tinha feito as pazes com a cicatriz, com os dias mais lentos e com o novo ritmo das coisas.
E eu passava a vê-la talvez uma vez a cada três ou quatro semanas, mais para orientação e ajustes do que para intervenção direta. Aos seis meses, despedimo-nos. Estava pronta.
Reflexões finais – o que aprendi com a Sarah
Cada paciente com pós-artroplastia total do quadril chega com mais do que apenas uma nova articulação. Trazem uma história, um estilo de vida ao qual querem regressar e muitas perguntas a que o Google não responde bem.
Isto é o que me ensinou trabalhar com a Sarah:
- Não é preciso um protocolo rígido: A evidência é clara: o treino progressivo de força e potência ajuda. Mas a forma como o aplicamos importa. Incorpore-o na vida do paciente, não apenas nas notas clínicas.
- Potência não é só para atletas: Adultos mais velhos, especialmente pós-operatório, beneficiam imenso de se moverem com intenção e velocidade, desde que de forma segura e pensada.
- O significado importa mais do que os números: Medimos força e mobilidade, claro. Mas foi a primeira sessão de jardinagem sem dor e o seu regresso tranquilo ao yoga que me mostraram que estávamos no caminho certo.
- Espaçar as sessões: A maior parte do nosso trabalho aconteceu com intervalos de duas a três semanas. Por vezes mais. Ela tinha um plano, tinha confiança, e isso deu-lhe autonomia, não dependência.
Conclusão
Se a sua reabilitação pós-artroplastia total do quadril parece uma checklist, faça uma pausa e olhe de forma mais ampla. Quem é a pessoa à sua frente? O que quer do seu quadril – não apenas no sentido clínico, mas na sua vida diária?
Baseie as suas decisões em evidências – subscrever as Revisões de Pesquisa da Physio Network é um ótimo começo – mas não se esqueça do lado humano. Daquilo que é confuso, mas significativo.
No fim, a reabilitação não é apenas sobre reconstruir força; é sobre recuperar os momentos que fazem a vida ser sua novamente.
Se quiser saber mais, leia a Revisão de Pesquisa completa do Dr. Anthony Teoli sobre recomendações de atividade pós-artroplastia do quadril ou do joelho AQUI, ou explore a biblioteca completa de revisões de Pesquisa da Physio Network AQUI.
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