Como interpretar um trabalho de investigação
Se tiver a sorte de ter acesso ao artigo completo de um trabalho de pesquisa, o próximo obstáculo com que se depara é a interpretação dessa pesquisa! Este blogue descreve a anatomia de um trabalho de pesquisa, dizendo-lhe o que deve e não deve fazer com cada secção. Em conclusão, ao ler este blogue, deverá ter uma melhor compreensão de como interpretar um trabalho de pesquisa quantitativa. Vamos a isso!
Resumo
Para que é que serve: Para que possa saber se quer ler o artigo inteiro.
O que fazer: Se a questão parecer importante e os resultados forem interpretáveis, então vá em frente e obtenha o artigo, se puder.
O que não fazer: Não formule as suas opiniões sobre as conclusões, com base na leitura do resumo. Não poste algo no twitter se apenas tiver lido o resumo!
O que precisa de saber: Não pode avaliar o risco de enviesamento a partir do resumo, o que significa que não pode julgar a fiabilidade das conclusões. A informação no resumo, pode não ser confiável, porque os investigadores muitas vezes deturpam as conclusões do seu estudo.
Na Physio Network, somos grandes apoiantes em ler mais do que o resumo. Foi por isso que iniciámos as nossas revisões de investigação, onde os especialistas da área dividem os documentos clinicamente relevantes para si, em leituras de 5 minutos.
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Introdução/Contexto
Para que é que serve: Descrever porque é que o estudo é importante e expor a questão da investigação.
O que fazer: Se a questão de investigação for clara e relevante para si, então continue a ler.
O que não fazer: Não fique demasiado convencido com o que os investigadores dizem nesta secção, concentre-se em saber se acha que a questão da investigação é importante.
O que precisa de saber: A secção é essencialmente uma revisão de literatura escolhida à risca que inclui todo o material que apoia o ponto de vista dos investigadores e ignora o resto. Os revisores e editores de revistas, geralmente, não insistem que os investigadores apresentem uma visão equilibrada na introdução.
Métodos
Para que é que serve: Descrever o que os investigadores realmente fizeram. Depois de ler isto deve ter uma imagem clara de quem estava no estudo (participantes), como os participantes entraram no estudo (recrutamento), que dados foram recolhidos (variáveis descritivas e resultados), e como os dados foram analisados (análise).
O que fazer: Se os participantes, os dados e a análise forem claros e compatíveis com a questão da investigação, então continue a ler.
O que não fazer: Não fique demasiado impressionado com métodos de análise extravagantes. Análises simples, que são descritas de uma forma compreensível, são apropriadas para a maioria das questões de investigação, e se a análise for demasiado complexa, não será capaz de interpretar os resultados.
O que precisa de saber: Preste atenção aos métodos de recrutamento, eles são importantes para julgar a generalidade. Preste atenção também à forma como os resultados são medidos, o estudo não lhe diz nada se as medidas não forem suficientemente fiáveis e válidas.
Resultados
Para que é que serve: Fornecer a resposta à questão da investigação, e descrever a amostra.
O que fazer: Se os números podem ser mapeados diretamente para a análise nos métodos e diretamente para a pergunta na introdução, sorria. Pode continuar a ler se quiser, mas na realidade já tem o que realmente precisa de saber.
O que não fazer: Depositar mais confiança na análise primária (especialmente se houver um protocolo ou registo publicado). Ter menos confiança nos resultados secundários e muito pouca nas análises retrospetivas ou exploratórias. Ignorar os resultados das análises que não aparecem nos métodos. É razoável ser cético se o tamanho da amostra for pequeno, mas também não deve ser seduzido por uma amostra grande; os resultados não são válidos, significativos ou importantes simplesmente porque uma amostra é grande. Julgue se achar que o efeito ou associação é clinicamente significativo (suficientemente grande para ser importante) para os seus pacientes.
O que precisa de saber: A dimensão das estimativas de efeito ou associações (e intervalos de confiança) é o que importa, os valores p dão-lhe muito pouca informação útil. Os investigadores nem sempre apresentam as análises primárias da forma mais proeminente; o exemplo mais comum é um ERC (estudo randomizado controlado) que relata alterações dentro de um grupo para ambos os grupos num ERC, em vez de diferenças entre grupos.
Discussão
Para que é que serve: Apresentar os resultados de uma forma interpretável e dar uma visão geral da investigação sobre o tema.
O que fazer: Se a exposição sobre os principais resultados refletir o que está nos resultados e abordar diretamente a questão da investigação, na introdução, terá a sua resposta. A outra parte principal desta secção deve ser um esboço de literatura relacionada, que será útil se: a) não tiver conhecimento do que foi publicado, e b) os investigadores apresentarem uma visão geral completa e equilibrada. Se tiver algum conhecimento de a) e não estiver confiante sobre b), então pode simplesmente interpretar os resultados por si próprio.
O que não fazer: Ignorar tudo o que restabelece os métodos ou diz coisas sobre este ser o “primeiro…”, não o ajuda. Não preste demasiada atenção às partes que abordam outra coisa que não seja a questão/resultados da investigação primária. Tenha cuidado se os resultados do estudo forem bastante diferentes de outros estudos que abordam questões semelhantes, independentemente das explicações dos investigadores para tais diferenças.
O que precisa de saber: Tal como a Introdução, esta secção é uma revisão da literatura escolhida à risca, juntamente com os resultados do estudo. Embora haja alguma consideração apropriada sobre as implicações dos resultados, os investigadores dedicam, frequentemente, grandes partes da discussão a especulações que vão muito além da discussão dos resultados reais do estudo. As limitações aparecem, frequentemente, numa secção limitada, e se forem suficientemente sérias, precisam de ser incorporadas na interpretação dos resultados.
Conclusão
Para que é que serve: Uma resposta concisa à questão da investigação.
O que fazer: Se a conclusão responder diretamente à pergunta de investigação, utilizando os resultados da análise primária, o seu trabalho aqui fica feito!
O que não fazer: Se a secção continuar por mais de um par de frases, inclui coisas que não pertencem à conclusão. Continue a ler se estiver interessado, mas não se agarre demasiado ao que está lá escrito.
O que precisa de saber: A investigação por vezes transmite descobertas que são dececionantes para as pessoas que gerem o estudo. Quando isto acontece, há uma tentação, para os autores, de exagerar nas suas conclusões.
Esperamos que este blogue tenha ajudado a clarificar a forma de interpretar um trabalho de investigação, para que possa implementar melhor a investigação/revisão da investigação na sua prática no futuro.
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