A razão pela qual temos de deixar de culpar o Transverso do Abdómen pelas dores de costas
A ideia de direcionar as intervenções para os músculos da core, como o Transverso do Abdómen (TvA) e o Multífidos, começou nos anos 90 com o trabalho de Hodges e Richardson. Estes trabalhos (1)(2), compararam o tempo de ação do TvA e do Multífidos em pessoas com mais de 18 meses de dor lombar (LBP) (com mínima ou nenhuma dor nas costas no momento do teste) com controlos saudáveis. As intervenções exigiam que os participantes movessem o ombro ou a perna e o tempo do TvA e do Multífidos foram medidos utilizando eletromiografia de agulha de superfície e comparado com o tempo da musculatura do membro que estava a ser movido. O que descobriram foi que as pessoas do grupo com dor lombar tinham uma ativação tardia do TvA em relação à musculatura deltoide (no estudo do membro superior) e as do grupo de controlo tinham uma ativação mais precoce. Este foi o início da fase de exercício de “controlo motor” da prescrição de exercícios corretivos. Um artigo interessante sobre este trabalho foi publicado pela Universidade de Queensland e pode ser lido na PhysioNetwork. Uma citação desta entrevista:
“Descobriu que um músculo, o músculo transverso do abdómen, era suscetível a ser uma das principais causas de dores recorrentes nas costas.
‘Este músculo é o mais importante e o mais profundo do abdómen. Tem a aparência e a funcionalidade de um espartilho, para estabilizar as costas’, afirmou.”
O que retirámos (extrapolámos) deste trabalho foi que o TvA era um músculo estabilizador do tronco e que era mais importante para as pessoas com lombalgia. O facto de fortalecer estes músculos profundos do tronco e de melhorar o seu tempo de ação diminuiria a dor lombar. Que a dor nas costas se deve à instabilidade.
O trabalho inicial de Hodges e Richardson tem sido muito influente na direção da investigação sobre a dor lombar, uma vez que, de facto, o tópico do controlo motor tem sido investigado ao ponto de termos agora 7 revisões sistemáticas. Curiosamente, 6 destas 7 revisões sistemáticas não demonstraram qualquer benefício na prescrição de exercícios baseados no controlo motor/TvA em relação aos exercícios gerais graduados (3)(4)(5)(6)(7), tendo uma delas afirmado que os exercícios de controlo motor tinham melhores resultados, mas “até à data, não se sabe se o efeito dos ECM (exercícios de controlo motor) na dor e na incapacidade física da dor lombar se deve à ativação isolada da musculatura local ou às fases subsequentes da intervenção que envolvem posturas carregadas que implicam todos os músculos do tronco”. (8) Uma outra revisão sistemática concluiu: “Há fortes indícios de que os exercícios de estabilização não são mais eficazes do que qualquer outra forma de exercício ativo a longo prazo… é improvável que mais investigação altere consideravelmente esta conclusão.” (9) Não há nada mais conclusivo do que isto na literatura científica. Para além disso, que eu saiba, nenhum estudo demonstrou que a dor lombar se deve à instabilidade da coluna vertebral.
Este trabalho inicial de Hodges, Richardson e Jull foi rapidamente adotado na comunidade de Pilates (algo que Joseph Pilates nunca mencionou no seu trabalho de Contrologia), foi adotado pela fisioterapia e pela comunidade de saúde aliada, e estávamos a avaliá-lo de todas as formas, como através do ultrassom e da palpação. Infelizmente, apesar de a literatura já não apoiar esta teoria, continuamos a difamar estes músculos e a dizer aos pacientes com dor lombar que têm fraqueza, instabilidade ou qualquer outra expressão horrível que, muito provavelmente, não é evidenciada. Ainda mais dececionante é que ainda não há escassez de cursos de educação continuada que ensinam essa abordagem para dor lombar,.
Embora esta estratégia possa ajudar, apesar de não ser melhor do que o exercício geral graduado, sabemos que a dor lombar está associada a outras comorbilidades, como a obesidade e a saúde mental (10). Se tivéssemos a opção de orientar alguém com o exercício, não fazia mais sentido optar por uma atividade de que essa pessoa gostasse, que conduzisse a benefícios nestes outros domínios, em vez de a fazer tentar sentir um músculo profundo num movimento de baixa carga, alimentando ainda mais as suas crenças de vulnerabilidade? Por fim, uma bela revisão detalhada de outras pesquisas sobre a core (11) (vale bem a pena ler), chega mesmo a aconselhar que aqueles que foram treinados para fazer hollow/brace devem ser desencorajados a usá-los, uma vez que isso pode criar padrões de movimento anormais e stress indevido no indivíduo.
Este artigo foi originalmente publicado no website do Brendan Mouatt. Podes clicar aqui para ler mais blogues dele.
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