Lesões relacionadas com a corrida: ideias sobre os principais fatores de risco
Todos recebemos corredores que procuram uma solução rápida para uma lesão que os tem incomodado há alguns meses – e, idealmente, sem terem de reduzir os quilómetros que percorrem! A conversa inicial normalmente passa por tentar descobrir o que mudou na carga de treino e que fatores contribuíram para o desenvolvimento da dor e da lesão. Sabemos que o tratamento precisa de ser individualizado, por isso, é fundamental compreender a(s) causa(s) da lesão e fornecer um plano bom e claro de educação.
A recente Revisão de Pesquisa do Dr. Travis Pollen indica que as perspetivas em relação a fatores de risco e fatores de proteção para lesões relacionadas com a corrida (RRI- Running-Related Injury) podem variar entre os diferentes grupos etários, o que pode significar que precisamos adaptar a nossa avaliação subjetiva e a educação dos pacientes. Este blog irá descrever algumas das conclusões da Revisão de Travis, bem como algumas das evidências atuais sobre os fatores de risco para RRI.
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Perceções relacionadas com a idade
O estudo recente (1) descrito na Revisão de Travis analisou as diferenças de perspetiva sobre fatores de risco e de proteção para lesões relacionadas com a corrida (RRI) entre adolescentes e adultos. O estudo encontrou diferenças médias a grandes nas perspetivas de cada grupo para mais de metade dos fatores apresentados. Algumas diferenças importantes incluíram:
- Os adolescentes eram mais propensos do que os adultos a considerar o treino de resistência com peso pesado e pouca repetição, como um fator de risco para lesões relacionadas com a corrida (RRI).
- Os adolescentes eram mais propensos do que os adultos a considerar o alongamento estático dos membros inferiores como um fator de proteção para lesões relacionadas com a corrida.
- Os adultos eram mais propensos do que os adolescentes a considerar passadas longas como um fator de risco para lesões relacionadas com a corrida.
- Os adultos eram mais propensos do que os adolescentes a considerar a baixa cadência (frequência de passos dados) como um fator de risco para lesões relacionadas com a corrida.
Compreender os fatores que levam ao desenvolvimento de dor e lesões é crucial no planeamento do tratamento; nós, enquanto profissionais, devemos ter em mente essas diferenças relacionadas com a idade para fazer uma avaliação subjetiva mais específica para cada paciente. Além disso, também influenciará como orientamos os nossos pacientes para que possam voltar a correr e se mantenham na atividade ao longo da vida. Por exemplo, ao tentar implementar o treino de força no programa de um paciente, a orientação de adolescentes pode envolver mais informações sobre os benefícios do treino de força para a corrida, técnica adequada e dissipar preocupações sobre o risco de lesão, enquanto as discussões com os adultos podem ser mais focadas em como enquadrar o treino de força nos seus estilos de vida. Leia a Revisão completa de Travis para uma compreensão mais aprofundada acerca das diferenças de perspetiva relacionadas com a idade que podem ajudar a direcionar a sua abordagem.
Fatores de Risco para RRI (Lesões relacionadas com a corrida)
Estes podem ser ligeiramente diferentes para diferentes populações, e ainda há muita investigação a ser feita nesta área. Abaixo resumimos as evidências atuais para o ajudar a ficar a par do assunto.
Uma revisão sistemática anterior encontrou evidências fortes a moderadas de que ter um histórico de lesões anteriores, assim como o uso de órteses/palmilhas, são fatores associados a um aumento do risco de RRI – Lesões Relacionadas com a Corrida (2). O estudo descobriu que os fatores que apresentavam um maior risco para mulheres do que para os homens incluíam idade, atividade desportiva anterior, correr em cimento, participar numa maratona, distância semanal de corrida (48-63 km) e ter usado os ténis de corrida por quatro a seis meses. Os fatores de risco mais relevantes para homens incluíam um histórico de lesões anteriores, experiência de corrida inferior a dois anos, reiniciar a corrida, distância semanal de corrida (32-46 km), ou correr mais de 64 km por semana. No entanto, é importante notar que muito poucos estudos analisam os fatores de risco de forma separada por género, pelo que esta informação é limitada.
Uma revisão mais recente descobriu que parece haver uma prevalência geral de RRI superior nas mulheres em comparação com os homens (3). Os fatores de risco associados incluíam ter menos de cinco anos de experiência de corrida, ter sofrido lesões no ano anterior e correr mais de três vezes por semana (3).
Em termos de biomecânica, a questão ainda está em aberto. A pesquisa é limitada por uma série de fatores, incluindo o tamanho reduzido das amostras, bem como a imprecisão das ferramentas de medição biomecânica (4,5). Por exemplo, uma revisão sistemática recente concluiu que não há evidência científica com qualidade suficiente para sugerir uma relação entre a técnica de impacto do pé e a RRI.
Em termos de consenso, o único fator de risco para RRI em adolescentes, comprovadamente científico e sem controvérsia, é a existência de lesões anteriores (6). Curiosamente, quando se considera um consenso para todas as idades, o calçado não é considerado um fator de risco (7), enquanto uma cadência baixa é considerada um fator de risco para RRI (8).
Recapitulando
Fazer com que os corredores voltem a correr, ou (idealmente) mantê-los a correr, pode ser um desafio. Os corredores são notoriamente determinados em continuar a pisar o asfalto, e geralmente só aparecem para uma consulta, quando fisicamente não conseguem continuar. Essa avaliação subjetiva inicial é frequentemente uma espécie de interrogatório, em que se tenta descobrir o que mudou – uma conversa que geralmente começa com o corredor a responder “nada”, o que requer que entre em detalhes para descobrir exatamente o que tem acontecido no programa de treino e na vida do corredor, em geral. Este é o primeiro e mais crucial passo na gestão de um corredor, por isso, entender a pesquisa em torno dos fatores de risco de RRI, bem como as diferenças de perspetivas entre diferentes populações, é útil para basear a sua prática.
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